Floresça sua cozinha

O uso de flores na cozinha é bem versátil: vai bem na salada, para decorar e aromatizar sopas e sobremesas, vinagres e azeites, na produção de geleias e compotas

Por Marina Ferreira C. Pinto*

Você com certeza já comeu couve flor, não é mesmo? Como o próprio nome diz – e diferente do que muita gente costuma dizer – esse alimento não é um legume, mas sim uma FLOR! Assim como o brócolis, a alcachofra e a alcaparra, presentes com certa frequência no prato dos brasileiros. Muitas vezes a gente não presta tanta atenção na diversidade que está disponível na mesa, mas se a gente parar para pensar, as flores, folhas, frutas e sementes fazem parte da nossa dieta e muito bem para o nosso organismo!

Flor de almeirão comestível

Estudos(1)* comprovam que as flores são ricas em nutrientes, fonte de vitaminas, proteínas, lipídios, sais minerais, antioxidantes e os chamados compostos bioativos; entre os minerais, foram identificados potássio, fósforo, cálcio e magnésio; e no time das vitaminas, algumas espécies são ricas em vitamina A e C – sendo que as quantidades de cada um dos elementos acima citados variam de acordo com a composição de cada flor. Vale lembrar também que elas possuem baixo teor calórico.

O uso de flores na cozinha é bem versátil: vai bem na salada, para decorar e aromatizar sopas e sobremesas, vinagres e azeites, na produção de geleias e compotas. É para comer com os olhos e o paladar! Além disso, a maioria de nós já tem o costume de “beber” o néctar das flores: os chás! Camomila, hibisco, macela… são apenas alguns bons exemplos. Quando utilizadas nesse formato de infusão, muitas delas também adquirem poderes medicinais, sendo possível tratar desde gripes, até inflamações intestinais e pressão alta.

Em um outro artigo publicado aqui, já tivemos a oportunidade de falar sobre as PANCs (Plantas Não Convencionais Comestíveis) e da infinidade de receitas possíveis para fazer com ingredientes que antes, por falta de conhecimento, talvez a gente dissesse que são pragas nos vasos de casa, como o caruru, por exemplo – planta essa, inclusive, que possui flor e folha comestíveis.

No cenário gastronômico internacional, é bastante comum o uso de água de rosas e flor de laranjeira para perfumar sobremesas, especialmente na região da África, Oriente Médio e Ásia; na Europa, o amor perfeito aparece nas saladas e as rosas e violetas são usadas na produção de licores, além de servirem flores de abóbora e abobrinha (foto).

Flor de abobrinha

À princípio, as flores podem causar um certo medo – e é melhor ter medo mesmo! – porque muitas delas podem ser venenosas. No entanto, estudar e desbravar esse novo mundo pode te render receitas incríveis! No site “Matos de Comer“, o etnobotânico Guilherme Ranieri recomenda o livro “Entre o jardim e a horta – As flores que vão pra mesa”, de Gil Felippe, para quem quiser se aprofundar no tema. Em geral, as pétalas são comestíveis, mas as sépalas podem ser duras e venenosas – e o pólen pode causar alergia também. Plantas típicas de jardim tendem a ser as mais venenosas, como azaléia, dama da noite e hortência.

Um outro ponto a ser levado em consideração na hora de consumi-las é se certificar de que foram produzidas de maneira orgânica, sem o uso de agrotóxicos ou em locais sujeitos à contaminação pela presença de animais, por exemplo.

Mas vale ressaltar que hoje em dia já é possível encontrar em alguns mercados e feiras livres flores que podem ser usadas para enfeitar os pratos e outras até servir de acompanhamento em saladas, como amor perfeito (foto), gardênia, capuchinha, serralha, dente de leão. Que tal florescer a sua cozinha hoje?

*Marina Ferreira C. Pinto é bióloga e uma das hortelãs do Pé de Feijão, trabalha com agricultura urbana orgânica, compostagem e conservação da agrobiodiversidade.

*Fonte: (1): Uma perspectiva nutricional sobre flores comestíveis, de Luana Fernandes; Susana Casal; José Alberto Pereira; Jorge A Saraiva; Elsa Ramalhosa.