Comer bem: para quem?

Os dados assustam quando falamos de acesso à alimentos saudáveis e de qualidade. O mesmo acontece com as taxas de desperdício. Mas o que podemos fazer?

Por Luísa Haddad

Em maio, dia 20, tive o prazer de dividir o espaço de discussão com duas pessoas super engajadas no mundo do acesso à alimentação de qualidade. Uma delas é a Claudia Visoni, grande ativista do movimento de hortas urbanas comunitárias de São Paulo. A outra é o chef Edson Leite, idealizador do projeto Gastronomia Periférica, que promove transformações sociais por meio da gastronomia a partir da conscientização sobre desperdício e aproveitamento total dos alimentos. Participamos, juntos, do Festival Path na mesa: “Alimentando as mudanças no mundo” sobre alimentação consciente e as possibilidades de transformação social por meio das nossas escolhas cotidianas.

Mesa "Alimentando as mudanças no mundo" no Festival Path

Luisa Haddad, à esquerda, com Claudia Visone e Edson Leite

 

Chegamos ao século 21 com muitos paradoxos e desafios a serem resolvidos. Por exemplo, você sabia que mais de sete milhões de brasileiros não têm acesso à comida, chegando a passar fome*1? E que, por outro lado, um a cada cinco brasileiros é considerado obeso – representando mais de 18% da população*2? A falta de comida na mesa e a má alimentação são as principais causas da má nutrição. É impressionante quando nos damos conta de que muitas crianças, independente da classe social, acabam conhecendo primeiro salgadinhos, bolachas recheadas, refrigerantes e outras guloseimas antes de experimentar uma grande diversidade de frutas, verduras e legumes. Estamos privando as crianças de sentirem o sabor real dos alimentos e a desenvolverem o paladar. Por isso que escolhi o acesso à alimentação saudável como propósito de vida – e trabalho para ser o pontapé que estimula o olhar de todos nós para essa questão e com a profundidade necessária.

É preciso entender que o alimento in natura precisa estar na base da nossa alimentação. Os alimentos ultraprocessados têm seu espaço na nossa rotina por conta da conveniência, mas sozinhos não suprem as necessidades nutricionais, seja de adultos ou crianças. Segundo o Guia Alimentar da População Brasileira, o alto consumo desses produtos está atrelado a uma combinação de diferentes fatores que vão desde a falta de informação, oferta, custo, habilidades culinárias, tempo até a publicidade. Quando falamos de acesso, é uma realidade que produtos ultraprocessados chegam em lugares onde hortaliças fresquinhas nem passam perto. Ou seja: como eu vou escolher um caminho equilibrado de alimentação se eu não tenho como comprar diferente?

No Pé de Feijão a gente acredita no poder das hortas urbanas e da educação alimentar para transformar a forma como as pessoas se relacionam com a comida. Lutamos para levar informação de qualidade para todos para que as pessoas queiram comer de forma mais equilibrada. Nas oficinas podemos observar que parte do problema não está necessariamente no acesso, mas sim na motivação para comer melhor. Queremos ser esse empurrãozinho que você precisa.

Este assunto rende e não queremos encerrar a conversa por aqui. Em breve um novo texto sobre este tema para que possamos seguir a discussão. E você? O que pensa sobre o acesso à alimentação saudável? Conte pra gente.

 

*Fontes:

1) UNICEF: https://secure.unicef.org.br/campanhas/saude-desnutricao: 7,2 milhões de brasileiros enfrentam situação grave de privação de alimentos, incluindo experiência de fome.

2) Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) (http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39625621)